Foram de horas, as discussões sobre este assunto.
A rotina, um assunto aparentemente básico e sem grande tema para reflexão, deu asas a longas conversas que se prolongaram nos anos em que diariamente falavamos.
Tu, apologista de mudanças e de grandes momentos, responsáveis pela diferença entre os dias. Eu limitava-me a aceitar a realidade (assim como a rotina) e esforçava-me por encontrar nos pequenos pormenores alguma coisa que distinguisse o passar do tempo.
Mantenho a minha opinião... valorizo o constante, preciso daquilo que é seguro e que me faz acordar e pensar "não é tudo perfeito, mas podia estar bem pior."... Aliás, o meu esforço por encontrar nos detalhes os momentos especiais deixou de ser esforço e passou a ser intrinseco. É parte de mim dar valor ao que é pequeno e ver nisso razão suficiente para me distinguir os dias. Peço desculpa, mas por muito chato que seja ter um destino pré-definido sempre que acordo de manhã, fazer sempre os mesmos gestos rotineiros e acabar sempre o dia da mesma maneira, isso é a base. Sem isso, andamos aos empurrões, a palpar caminho, a cortar mato todos os dias.
Resta-nos valorizar o que nos rodeia. Ver as pequenas conversas, aquelas que nos denunciam, as pessoas que surpreendentemente se cruzam connosco e nos dão uma luz diferente, os olhares, os bons momentos de riso e de cumplicidade. Sabes o que aprendi? A observar pessoas. A valorizar o sorriso das pessoas. Olhar para elas e atingir que é tudo uma questão de prespectiva. E que aquilo que nos marca não tem que ser feito de grandes acontecimentos. É discreto, é pequeno... mas faz a diferença. Basta estarmos dispostos a vê-lo.