16 de dezembro de 2008

Esquecer...


"Sabes, tenho medo daquilo a que a gente se habitua. Quando te foste embora, pensei que não iria ser capaz de dormir mais nenhuma noite inteira, sentindo o vazio ao meu lado, na cama. Pensei que iria andar todos os dias como que perdida e ausente, sem me conseguir concentrar em coisa nenhuma, hora a hora imaginando-te aí tão longe, tão distraído com outras coisas, tão distante de nós. E, depois, dei-me conta de que me conseguia ir habituando. A dormir sem ti, a acordar de manhã sem te ver, a começar o dia sabendo que tu não irias estar presente, a ir-me deitar sem saber nada de ti. Habituei-me a criar outras rotinhas, outra maneira de fazer as coisas, outros pensamentos com que ocupar a cabeça, outras distracções para me esquecer da tua ausência. Descobri que a distância cria distância- e não sei se isso é bom ou mau. Se é uma forma de defesa passageira ou se é uma habituação para sempre. Percebes o que eu quero dizer?
Desculpa se penso isto, vê se entendes que não me é facil(...)"


Miguel Sousa Tavares, Rio das Flores

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